terça-feira, 1 de julho de 2008

Reflexo


Saíu à rua e em superfícies espelhadas via o que procurava.
Num espelho, num vidro de uma janela ou de um quadro, num plano em inóx de uma fachada ou numa pedra polida, num pano de água, num charco de chuva nocturna, nos teus olhos via-se.
Em superfícies planas, curvas, côncavas ou convéxas, via silhuetas simétricas, distorcidas, inclinadas, de pernas para o ar, via no rio uma cidade de pernas para o ar à qual queria pertencer.
Que não fossem reflexos de luzes nem sombras, que fosse palpável e não semelhante desconhecido.
Saíu e levava um espelho no bolso direito, pronto a sacar num momento de tristeza. Jogava, via, reflectia, brincava com luz e provocava sombras.
Queria uma cidade onde o telhado fosse a base, os objectos contrariassem a força da gravidade, onde um repucho seria reinterpretado, onde descobres contornos, fragmentos de vidas e cidade, onde o azul é outro, o azulejo e as proporções são novas.
A aparente harmonia, reflectida é a verdadeira harmonia para si.
Preferia ver a sua janela reflectada no rio que ver o próprio rio desde a janela onde elegeu espreitar.
Descobriu os reflexos e reflectui sobre a subjectividade do belo e do que conhecia até aí… redescobriu uma cidade e a vontade de estar nela.

Procuro esse reflexo… por todas as cidades.

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